União para crescer
- Frederico Aburachid
- 27 de mai. de 2017
- 3 min de leitura

Conhecidos estrategistas na arte da guerra, Sun Tzu (sec. V a.C.) e Nicolau Maquiavel (1469-1527) defendiam uma técnica de dominação, considerada “básica” atualmente pela teoria dos jogos: “dividir para reinar”.
A técnica consiste em promover ações coordenadas dentro de um mesmo grupo social voltadas para conquistar o poder.
Através de um plano estratégico, uma facção inserida no grupo passa a criar divergências entre os indivíduos. Provocar crises de hierarquia. Semear a inimizade e desconfiança entre os pares e governantes. Finalmente, a facção passa a exercer o controle do grupo sob justificativas ideológicas ou algum viés lógico-racional que lhe seja conveniente, propondo soluções messiânicas para o problema criado.
O discurso segregador contem termos como “nós” e “eles”, “dominador” e “dominados”, “ricos” e “pobres”, “coxinhas” e “mortadelas”, “a” e “b”, mantendo-se uma “ética às avessas” e um aparente “elo de lealdade”.
Aludida estratégia já foi utilizada por vários imperadores ao longo dos séculos e, ainda hoje, vem sendo adotada por governos estatais, instituições públicas e privadas, seja para disputas políticas ou de mercado.
A questão é: esse modelo funciona em plena era da informação? Suas chances de sucesso são significativas?
Infelizmente, mesmo com o avanço da tecnologia e dos meios de acesso a informação, criar divisões internas, quebrando a força da união e suas virtudes, tem se revelado ainda hoje um modelo eficaz para o exercício do poder.
A justificativa está na dificuldade dos eleitores compreenderem o maciço de informações provenientes das mais diversas fontes. Não é só. Conciliar a pluralidade de ideias e interesses é tarefa árdua.
Em outras palavras, sempre foi – e continuará sendo – mais fácil realçar as diferenças do que defender os pontos comuns.
A característica pessoal de cada um dos membros do grupo é apresentada no contexto de desagregação como um fator discriminatório. Acresça-se a isso que cada um possui suas necessidades, estando “famintos” por um discurso que lhes apontem soluções rápidas, ainda que sejam de viabilidade absolutamente questionável. O “segregado” é seduzido pelo discurso de inclusão e pela proposta de solução imediata aos problemas. Não importa se o fato é verdadeiro, mas apenas a sua narrativa.
A história mostra que todos aqueles que alcançaram o poder através dessa lógica perversa, passaram a usar de violência, restrições a direitos, técnicas de intimidação etc, para empreenderem suas ações e permanecerem no poder.
A fragilidade do elo de lealdade, fundado em mentiras de ocasião, acaba propiciando ao “grupo segregado”, a “decepção do dia seguinte”.
A melhor forma de romper com essa técnica, é buscar o “agir comunicativo” dos membros do grupo. A cura pela fala. É preciso promover a participação e adesão dos indivíduos por meio de decisões coletivas.
Aqueles que se sentem fragilizados pelo atual estado das coisas, devem obter respostas concretas, ao invés de acreditarem em promessas e hipóteses a serem executadas por terceiros. A participação é o melhor remédio, a fim de que interpretem o conteúdo das informações a que tem acesso e possam decidir coletivamente.
O Brasil vive tempos difíceis. Nossas instituições sofrem pressões e conflitos motivados por diferentes fatores. Nós, como brasileiros, precisamos superar nossas divisões internas. Romper com a falácia do “nós” e “eles”. Dentre outras reformas, o sistema político há de ser modificado com urgência, através de um acordo normativo que revisite teorias sobre a participação popular e reafirme a limitação das funções estatais.
É necessário remediar esse triste quadro. Resgatar a união e a confiança entre os brasileiros. Apagar de nosso contexto a técnica de “dividir para reinar” e promover a “união para crescer”. No Brasil e em nossas instituições.
ABURACHID, Frederico José Gervasio. União para crescer. Belo Horizonte, 2017.
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